Veículo amado por milhões de brasileiros, nossa TV tem como uma de suas maiores inspirações o conteúdo norte-americano. Mas será que a linguagem e os costumes televisivos são realmente tão iguais nos dois países?

A seguir, conheça algumas das principais diferenças entre a TV do Brasil e a TV dos Estados Unidos.

CANAIS ABERTOS

Ao contrário do Brasil, a TV americana tem cinco canais competitivos, que brigam por si de igual para igual na audiência. Lá, temos as três maiores e mais tradicionais redes (NBC, lançada em 1939; CBS, fundada em 1941 e ABC, inaugurada em 1948), cujo domínio se prolongou até os anos 80.

Em 1986, surgiria a quarta grande estação, a FOX. Vinte anos depois, era lançado o canal The CW (fusão das antigas UPN e The WB), formando assim as cinco maiores emissoras.

Além disso, temos redes públicas, como a PBS, lançada em 1970 e focada em programação educativa e cultural, não competindo com as outras em termos de audiência.

CANAIS PAGOS

Por aqui, as principais atrações se concentram na TV aberta, sem que a programação paga ameace a hegemonia desta. Mas nos Estados Unidos, como a maior parte dos espectadores tem acesso a canais pagos, isso é diferente.

Programas vindos de canais por assinatura também se tornam grandes fenômenos de audiência, atraindo milhões de espectadores e ditando moda em toda a cultura pop. Elencando rapidamente alguns exemplos recentes, podemos citar Game of Thrones (HBO), Breaking Bad (AMC) e Homeland (Showtime).

NOVELAS

Enquanto no Brasil este é o principal produto da televisão, nos Estados Unidos as novelas não são grandes atrações. Chamadas de Soap Operas (em homenagem aos fabricantes de sabão, patrocinadores das primeiras edições, nos anos 40), elas se prolongam por anos ou décadas, variando personagens e tramas mas sempre seguindo uma ambientação padrão (similar à estrutura usada em Malhação).

Como exemplos mais famosos do gênero, podemos destacar Guiding Light (1952 a 2009 – CBS), As the World Turns (1956 a 2010 – CBS), The Young and the Restless (desde 1973, CBS), Days of Our Lives (desde 1965 – NBC) e General Hospital (desde 1963 – ABC).

Exibidas nas manhãs ou tardes das emissoras, as Soap Operas são consideradas produtos secundários nas grades de programação.

AFILIADAS

No Brasil, a programação produzida localmente consiste em uma pequena parcela da grade, geralmente focada em noticiários. Nos EUA, a liberdade das afiliadas é muito maior, com muito mais conteúdo local. Com exceções de faixas transmitidas em rede, como o horário nobre e telejornais nacionais, as emissoras tem muitas horas a serem preenchidas localmente.

Assim, com horários livres, a maior parte das afiliadas se beneficia do sistema de Syndication, no qual programas são produzidos por estúdios e vendidos regionalmente, sem vinculação com nenhuma rede nacional.

O maior exemplo de sucesso neste quesito é o do talk show The Oprah Winfrey Show, exibido de 1986 até 2011 por centenas de redes locais, espalhadas por diferentes emissoras (ou seja, Oprah se tornou uma celebridade sendo vista em todos os canais, dependendo da localidade).

TV POR ASSINATURA

Novidade relativamente recente no Brasil, a TV a cabo surgiu em 1948 nos Estados Unidos. Originalmente, o sistema se destinava apenas a levar os sinais dos canais abertos para áreas nas quais a recepção via antena era inviável.

Nos anos 50, surgiam as primeiras transmissões de filmes, o chamado pay-per-view. Em 1972, surgiriam os primeiros exemplos de programas feitos originalmente para o sistema; um destaque deste ano foi o lançamento da HBO, canal pioneiro na exibição do chamado conteúdo premium.

Nos anos 80, a TV a cabo se espalhou por todo o país. Um marco do período foi o surgimento da CNN, a primeira emissora que exibia notícias 24 horas por dia, em 1980. Desde então, a programação passou a atingir a maior parte das residências.

FUSO HORÁRIO

No Brasil, o problema de zonas horárias diferentes ocorre com maior intensidade no período do horário de verão, quando estados que não aderem à mudança recebem uma programação levemente diferenciada, a chamada Rede Fuso. Mas nos EUA, esse problema é constante, uma vez que o país é dividido em vários fusos horários.

Para a TV, são adotados quatro fusos: Pacific (oeste do país), Central/Mountains (região central do país) e Eastern (leste do país). Enquanto noticiários nacionais e eventos ao vivo, como jogos da NFL e da NBA, são exibidos sem atraso em todo o território, outros programas podem ser exibidos com delay, para que todos os estados assistam aquele conteúdo na mesma hora local.

PROGRAMAS INFANTIS

Na TV brasileira, tradicionalmente a programação para crianças era exibida nas manhãs dos dias da semana (hábito que vem acabando nos últimos anos após a popularização da TV paga, com apenas o SBT e a Cultura mantendo a tradição). Mas, na TV americana, as atrações infantis sempre foram concentradas nas manhãs dos sábados.

Isso se dá pelo fato das escolas terem períodos integrais, o que faz com que a audiência infantil praticamente inexista durante a semana. Assim, desde a década de 60, o sábado se tornou o dia tradicional dos desenhos animados na TV. Além disso, não existe a tradição de apresentadoras infantis, pilar do gênero no Brasil.

PROPAGANDA POLÍTICA

Ao contrário do Brasil, os EUA não tem faixa de propaganda política obrigatória na TV. As inserções de candidatos são pagas pelas campanhas e não bancadas com dedução dos impostos das emissoras, como ocorre por aqui.

Assim, se um candidato quer aparecer durante a programação televisiva, tem que comprar o espaço, como qualquer outro anunciante.

TALK SHOWS

No Brasil, programas de entrevistas vem se popularizando nas últimas décadas, principalmente após o lançamento do Jô Soares Onze e Meia (1988 a 1999 – SBT). Atualmente, vivemos um momento inédito, no qual três talk shows se enfrentam na mesma faixa de horário (Programa do Jô – Globo, The Noite – SBT e Programa do Porchat – Record).

Mas, nos EUA, a situação é bem diferente. Os programas do gênero são pilares da grade televisiva há décadas, criando uma tradição já bastante extensa de enfrentamento na audiência. Chamada de late-night, a faixa foi popularizada em 1962, quando Johnny Carson assumiu o The Tonight Show, programa da NBC que já existia desde 1954. Ficando a frente do programa até 1992, o apresentador se tornou uma das maiores figuras da história da TV norte-americana e foi substiuído por Jay Leno (1992 a 2009 e 2010 a 2014), que deu lugar a Conan O’Brien (2009 a 2010, que cedeu seu espaço para Jimmy Fallon em 2014.

Mas o Tonight Show não reina sozinho, tendo seu maior oponente no Late Show, da CBS, que foi comandando por David Letterman (1993 a 2015) e atualmente é apresentado por Stephen Colbert. Além dos dois principais, existem diversos outros programas do gênero, em todas as principais emissoras.

NOTÍCIAS

No Brasil, a maioria da população se informa pelos telejornais das grandes redes abertas. Já nos EUA, a situação é diferente. Os jornais das emissoras abertas tem grande foco local, com assuntos do cotidiano, como a previsão do tempo (quesito que tem muita relevância e popularidade naquele mercado, muitas vezes sendo a maior atração do telejornal).E, em uma tradição de décadas, os três mais importantes telejornais do país são exibidos no mesmo horário: ABC World News Tonight, CBS Evening News e NBC Nightly News se enfrentam diariamente, às 18h30.

Mas a maior fonte de informação do público norte-americano vem dos canais de notícias. Pioneira no gênero, a CNN foi fundada em 1980, se tornando a marca mais conhecida mundialmente no setor. Nos EUA, a programação é bastante focada em assuntos locais, diferente do resto do mundo (que recebe o sinal internacional da rede, com outra grade).

Em 1996, surgiu a FOX News, rede voltada para o público conservador, com notícias focadas principalmente nos Estados Unidos e em sua influência ao redor do mundo. No mesmo ano, foi lançada a MSNBC, emissora criada em uma parceria entre a NBC e a Microsoft, focada em setores menos conservadores da sociedade. A quarta emissora mais importante é a HLN, antiga CNN Headline News, canal do grupo CNN voltada para coberturas ao vivo e imediatas, se focando em manchetes dos últimos acontecimentos.

Desde 2002, a Fox News se tornou líder do mercado, acabando com o domínio de décadas da CNN. Atualmente, as outras três redes se alternam nas posições seguintes, com vários períodos recentes nos quais a HLN venceu as rivais e deixou MSNBC em terceiro e CNN em quarto lugar.


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Alexandre Pequeno é jornalista e apaixonado pelas novelas brasileiras desde a infância. A paixão foi tanta que seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi sobre a novela Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos. Em 2018, lançou o canal Novelando, onde aborda, de forma bem humorada, sobre as tramas que marcaram a história da TV. Já publicou contos e crônicas em antologias nacionais Leia todos os textos do autor