Hoje em dia falamos de muitos assuntos tidos como “tabus”, porém, alguns temas, mesmo sendo alarmantes, ainda são pouco discutidos. Um deles é o suicídio. O número de pessoas que tiram a própria vida avança diariamente de maneira silenciosa e assustadora. No Brasil, o índice de suicídios perde apenas para homicídios e acidentes de trânsito entre as mortes por fatores externos (o que exclui doenças).

Há algum tempo, em um momento difícil, acompanhava todo dia o seriado The Office para dar algumas gargalhadas e amenizar o peso do dia a dia. A equipe que legendava a série para a internet utilizava um “slogan” que nunca vou esquecer: nosso trabalho salva vidas. Perfeita descrição! Quantas pessoas espalhadas pelo mundo se apegam nos momentos de distração (filmes e seriados) para não se entregarem quando a vida parece não colaborar de maneira nenhuma? Creio que o número é grande. Na época do The Office, há uns seis anos, eu era uma dessas pessoas e me distrair com filmes e séries tornava tudo melhor, me distraia, ocupava a mente.

Por isso, sempre que surge algum filme ou série falando sobre esse assunto, dou atenção e acompanho. É difícil para a maioria das pessoas entenderem um suicida, alguém que esgota todas as possibilidades de esperança e tira a própria vida. Talvez, por isso, o tema seja tão pouco discutido em nossa sociedade.

Mas, isso pode mudar. Na próxima sexta-feira, dia 31 de março, estreia na Netflix a série 13 Reasons Why. Veja sinopse abaixo e assista ao trailer legendado:

Clay (Dylan Minnette), um jovem rapaz, recebe uma caixa de sapatos enviada por Hannah (Katheriine Langford), sua amiga e paixão platônica, vulgo crush da escola. O garoto se espanta, pois Hannah acabara de se suicidar. Dentro da caixa, ele encontra várias fitas cassete, onde a jovem gravou os 13 motivos que a levaram a interromper sua vida. Além dos motivos, Hannah passa instruções para serem levadas adiante entre os demais envolvidos.

A série foi inspirada no best-seller do mesmo nome, escrito pelo americanoJay Asher. No Brasil, o livro foi traduzido para “Os 13 Porquês”. É o famoso “soco no estômago”, trazendo para reflexão a fragilidade da vida, o quanto as ações “inocentes” podem ser nocivas na vida de outra pessoa. O cenário da série, o ensino médio, reforça a seriedade do tema. Os jovens são responsáveis por parcela preocupante dos suicidas no Brasil, ao lado dos idosos, que têm maior índice.

Hoje em dia é muito mais fácil ferir uma pessoa. Hoje, o bullying sai da sala de aula e ganha proporções gigantescas na internet, nas redes sociais e nos aplicativos. Tudo se propaga muito rápido. É muito triste, mas totalmente compreensível, que um jovem já passando por transformações, por conflitos internos, por crises existenciais, precisando decidir o que fazer da vida no futuro fique extremamente ferido com ataques dos “amigos”, seja qual for o motivo: espinhas, virgindade, obesidade, magreza, orientação sexual, etc. O extremismo a que muitos chegam, infelizmente, é compreensível. As “brincadeiras” de mau gosto que terminavam na escola quando tocava o sinal para as crianças irem embora, hoje não terminam mais. Hoje se repetem, se repetem e ficam arquivadas na “Grande Rede” para nunca mais serem esquecidas.

Espero que 13 Reasons Why, mesmo sendo uma série dramática, com um tema delicado e que, provavelmente, vai fazer o estômago das pessoas se contorcerem por ser triste e reflexiva, seja acompanhada por muitos espectadores, a maioria jovens. Talvez, o fato de a série ser produzida pela Selena Gomez, ídolo teen e estrelada por Dylan Minnette, ator “jovem, mas já rodado”, contribua para ela ser bem aceita pela garotada.

A forma como um tema tão delicado é abordada nessa série, com fitas cassetes sendo propagadas entre os “incentivadores”, mesmo que involuntários, da tragédia maior na vida da adolescente Hannah, é tocante. O livro já comoveu milhares de leitores, a série também promete ser sensível a esse ponto. E, como disse acima, espero que seja acompanhada por muita gente. Torço, de verdade, para que muitos jovens, que entram “na onda” ao fazer gozações com os colegas, assistam e parem para refletir e vejam o quanto podem estar minando a vida de alguém que só está tentando tocar o barco.

Como dizia Renato Russo, “diga o que disserem, o mal do século é a solidão”. Falta empatia e sobra egoísmo. Falta a pessoa se colocar no lugar do outro e pensar: o quanto isso me feriria se fosse o inverso? Na sexta-feira, começo a acompanhar 13 Reasons Why, reações entre o público e mais para frente volto a falar.

Para finalizar, deixo uma dica de outro seriado, esse bem mais leve, mas que também fala sobre suicídio: Gravity, de 2010. Ele não chegou ao Brasil, foi apenas exibido pelo canal de TV Paga americano Starz, que também foi responsável por produções como Spartacus. Talvez buscando na internet você encontre material sobre a série e vale apenas assistir todos os episódios (se não me engano, teve apenas uma temporada). É com a Krysten Ritter, a Jéssica Jones.
Gravity conta a história de vários personagens que tentaram o suicídio e por vários motivos não conseguiram finalizar a ação. Ela é bem humorada, bastante leve, mas de uma sensibilidade gigantesca. Na época em que assisti, confesso, me emocionei demais e passei a olhar a vida por outro ângulo. Vejam abaixo o trailer:

Desculpem pela seriedade do tema, mas é algo que precisa ser falado, discutido e revisto, principalmente por pessoas que têm contato mais direto com jovens. Se você leu essa coluna até aqui, procure acompanhar 13 Reasons Why e, se estiver inserida no meio dos jovens, procure uma forma de abordar o tema. Acho que se começarmos de dentro de casa mesmo, ensinando filhos, sobrinhos e amigos a não serem intolerantes, já fazemos muito!


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Inquieto e ansioso desde 1987, Jônatas Mesquita é jornalista e viu o TV História dar os primeiros passos, das viagens regadas a tubaínas e FIFA à audiência europeia. Vive em Lisboa e não precisa de dublagem para assistir às novelas portuguesas Leia todos os textos do autor