“Desde sempre, uma escolha diz o que você vai ser e o que vai viver. Uma escolha diz o que você terá e o que não terá. Uma escolha diz o que virá para o seu destino e para o seu reino. Desde sempre, você faz suas escolhas e suas escolhas fazem você”. Baseada nesta premissa – narrada em um criativo teaser mesclando várias épocas -, Deus Salve o Rei estreou nesta terça-feira, 09, substituindo o sucesso Pega Pega, após uma intensa divulgação da Globo através de inúmeras chamadas e ações em mídias sociais sobre a nova produção das sete.

A novela é escrita pelo estreante Daniel Adjafre (em seu primeiro folhetim como autor titular, após vários trabalhos como colaborador na televisão e filmes em seu currículo) e dirigida por Fabrício Mamberti, idealizadores do ousado projeto, que quebra uma longa sequência de enredos contemporâneos em uma faixa quase sempre destinada a comédias leves.

A última produção de época das 19h foi a fracassada Bang Bang, em 2005, que não deixou boas lembranças para a Globo. Talvez por isso mesmo a emissora tenha investido tanto em divulgação na nova empreitada, fazendo de tudo para o grande público ser conquistado pela história medieval.

Tanto que pela primeira vez várias ações com fãs foram realizadas, cerca de três meses antes da estreia, já com o intuito de promover o enredo e apresentar a sinopse, além dos trabalhos gráficos em torno dos efeitos especiais e afins. Outro evento inédito foi a pré-estreia de Deus Salve o Rei em vários cinemas ao redor do país, realizada na segunda-feira, dia 8, e exibida para convidados especiais.

Eu, inclusive, fui convidado para assistir e meses antes cheguei a conhecer a cidade cenográfica da novela, incluindo o capricho dos figurinos e os cuidados com os efeitos em cenas de luta, por exemplo. Sem dúvida, é um dos maiores investimentos da Globo, principalmente levando em conta ser um folhetim das sete e não das nove.

A história central se baseia no acordo entre os fictícios reinos de Artena e Montemor. O primeiro é rico em água e o segundo em minério de ferro. Em troca do fornecimento de água de Artena, Montemor oferece minério. Tudo segue em paz por anos, mas o acordo acaba abalado com a morte de Crisélia (Rosamaria Murtinho), rainha de Montemor e avó de Afonso (Rômulo Estrela) e Rodolfo (Johnny Massaro).

O rei de Artena, o íntegro Augusto (Marco Nanini), tentará manter a cordialidade, mas a filha Catarina (Bruna Marquezine) deixará sua ambição falar mais alto, contrariando sempre as decisões do pai. A premissa ‘das escolhas que cada um faz’, vista no teaser, torna-se presente em virtude da recusa do príncipe Afonso em assumir o trono, principalmente depois de conhecer a plebeia Amália (Marina Ruy Barbosa).

Ou seja, é um folhetim clássico com toques de ‘capa e espada’, como costuma acontecer com frequência em filmes da Disney. As comparações com a aclamada série norte-americana Game Of Thrones acabam sendo inevitáveis, mas apenas parte do contexto se assemelha e vale lembrar que a premiada produção nunca foi a inventora de enredos medievais.

O autor e o diretor, inclusive, já disseram que Que Rei Sou Eu? (exibida na Globo em 1989) foi a maior inspiração – aliás, a novela de sucesso de Cassiano Gabus Mendes era ambientada em 1786, três anos antes da Revolução Francesa. A atual não tem um ano definido com o intuito de deixar o contexto mais livre para criações.

O primeiro capítulo abusou das imagens deslumbrantes de castelos e paisagens captadas em viagens da equipe da novela por Islândia, Inglaterra, Irlanda, entre outros países. O capricho dos figurinos e cenários impressionou, enchendo os olhos de quem assistia. A produção dessa trama não fica devendo a nenhum produto de fora, sem qualquer exagero.

Em se tratando de enredo, houve um foco inicial na dificuldade de Montemor em conseguir água, expondo até a inutilidade de uma obra pública (qualquer semelhança com os dias atuais não é mera coincidência), que não conseguiu canalizar o recurso que abunda em Artena. A preocupação da rainha Crisélia destacou Rosamaria Murtinho e também expôs a imaturidade do príncipe Rodolfo – Johnny Massaro em um papel quase igual ao que interpretou em Filhos da Pátria.

A cena da batalha entre os soldados de Afonso com inimigos do reino também primou pela coreografia bem executada, culminando em uma quase morte do príncipe, que acabou sendo encontrado por Amália, fechando a estreia de forma redonda. Já a abertura, ao som de Scarborouch Fair, cantada lindamente por Aurora, fez jus ao primor do folhetim. As imagens utilizadas são de um deslumbre só e, sem dúvida, o resultado já é um dos mais bonitos realizados pela Globo.

Deus Salve o Rei tem tudo para ser uma ótima trama, engrandecendo o horário das sete com um folhetim inovador para a faixa. Daniel Adjafre tem uma história promissora em mãos e a equipe de Fabrício Mamberti, por tudo o que tem sido visto, está promovendo uma estrutura raramente observada em novelas. O elevado investimento é notado em todos os momentos e resta torcer para que o enredo honre a qualidade da fotografia, cenários e figurino. É o mínimo que se espera.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor