Adoro A Viagem, em minha singela opinião, uma das melhores novelas da década de 1990. Pelo visto, muita gente concorda comigo, haja vista toda a repercussão que gera a cada reexibição. Desta vez, não foi diferente: meus últimos textos sobre a novela estão entre os mais lidos dessa coluna.

Como a assisti apenas uma vez, na exibição original, há 26 anos (não vi nenhuma das reprises), estou disposto a acompanhá-la diariamente (o que já faço com Sassaricando). Por isso, começo neste espaço as resenhas semanais de A Viagem, com impressões sobre a trama e a produção à medida que a novela avança.

A Viagem – Semana #1

• O que mais me chamou a atenção na primeira semana foi a edição ruim, que pareceu feita às pressas, mostrando que a novela realmente foi idealizada a toque de caixa, como escrevi neste texto. O diretor-geral Wolf Maya teve apenas vinte dias para colocar A Viagem no ar, o que é um espaço de tempo curtíssimo.Várias sequências foram mal cortadas, talvez por cenas suprimidas. Ficou perceptível, por exemplo, em um entrecho com o casal Raul e Andreza: eles decidem levar Dona Guiomar até a fazenda e, logo depois, o casal aparece olhando as estrelas em uma porteira, para em seguida serem vistos no apartamento de Diná (?).

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• No capítulo de sábado, houve um deslize de roteiro que só os mais atentos pescaram. Alberto chama a mãe de Téo de Josefina, quando o nome da personagem é Josefa (Tânia Scher), como ela já havia sido chamada anteriormente. Em outro texto, destaquei que, para o remake, os nomes de vários personagens foram alterados. Dona Josefina era como se chamava a mãe de Téo na primeira versão da novela (na TV Tupi), quando a personagem foi vivida pela atriz Yolanda Cardoso.

Aliás, sobre esta sequência, há uma outra discrepância. Na primeira cena, quando Alberto (ele médico) aborda Josefa (enfermeira), eles se tratam com cerimônia. Ela se refere a ele, inclusive, por “senhor”, para na cena seguinte (em que ele finalmente a chama de Josefa) se tratarem com a intimidade de velhos conhecidos. Erro no roteiro e na direção, que não percebeu a diferença – ou deixou passar pelo tempo escasso.

• Estava na moda entre as novelas da época longas sequências de ação, com perseguição de carros e tiroteio. Alexandre fugindo da polícia mostra bem isso. São cenas bem dirigidas, mas que hoje, quase caíram em desuso e soam até maçantes. Eu achei longa demais, mas ok, foi uma pirotecnia válida para chamar a atenção do público na estreia.

• As cenas da vila na Urca, ondem moram Estela, Lisa, Cininha e outros personagens, são muito boas, com uma cidade cenográfica bem feita e interiores reais das casas. A direção até arrisca planos sequência, em que a câmera pega o ator do lado de fora e o acompanha entrando na casa e andando pelos ambientes. Só me perturba a casa de Estela ser toda verde – mas isso é implicância minha (rs).

Vários já perceberam que essa cidade cenográfica já havia sido usada em outras novelas (como Felicidade e Lua Cheia de Amor) e, certamente, continuou sendo usada. O morro da Urca inserido por computador, com direito a bondinho, também é ótimo, até para os olhos de hoje. É perceptível que foi inserido por computador, mas tem o seu charme.

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• A trilha sonora de A Viagem é um deleite à parte, bem executada, com músicas ótimas, que marcam bem os personagens e ficaram em nossa memória afetiva. Minha preferida: “Caminhos de Sol“, gravada pelo grupo Yahoo, tema de Lisa.

• A videolocadora de Diná e Andreza remete à época (década de 1990) e traz uma nostalgia gostosa. Sempre fui rato de videolocadora e fico prestando atenção nos cartazes, tentando identificar os filmes daquele tempo.

• Algo que sempre me perguntei: como pode Diná ser rica como sócia da cunhada em uma única videolocadora, que é visivelmente pequena? A família Toledo “veio de baixo”, como explicou Raul nessa semana. Sua irmã Estela vive com o orçamento apertado, tendo de fazer bijuterias para complementar as despesas. Mesmo que fosse uma grande cadeia de locadoras, não justifica.

O marido de Diná, Téo, é um arquiteto em início de carreira e sua mãe é enfermeira. Aliás, Diná ajudou financeiramente Téo na faculdade. Lancei no Twitter a dúvida sobre o dinheiro de Diná e algumas pessoas responderam que adiante será explicado que ela foi uma modelo famosa, talvez de carreira internacional. Vamos aguardar.

• Por fim, destaco o gancho do capítulo de sexta para sábado em que Diná empurra Mauro e ele vai parar do outro lado da mesa. A cena é muito boa e até voltei para ver de novo: não há corte, só após a queda de Mauro. O ator Eduardo Galvão realmente cai sobre a mesa, derrubando tudo e se estatelando no chão. Imagina gravar isso, o tanto de ensaio que teve! O ator podia se machucar de verdade – se é que não se machucou, a gente não sabe!

A história está apenas começando e estou adorando rever a novela. Semana que vem, dou continuidade.

PS: Carmem é a precursora de Betty, a Feia, né!

AQUI tem tudo sobre A Viagem: trama, elenco e personagens, trilha sonora e muitas curiosidades.

SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.

SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor