Vivian de Oliveira é o principal nome dos novos tempos da teledramaturgia da Record. A autora de Apocalipse, em exibição às 20h45, foi percursora do gênero bíblico – desde a retomada das produções próprias, em 2004, a partir do lançamento das minisséries A História de Ester (2010), Rei Davi (2012) e José do Egito (2013). Com Os Dez Mandamentos (2015), a investida mais ousada: um folhetim baseado nos dizeres sagrados, capaz de combalir o Jornal Nacional e a então inatingível novela das 21h.

Mas nem só de feitos bíblicos vive a teledramaturgia de Vivian, que estreou na Record com Por Amor e Ódio (1997), trama de trinta capítulos que partia de um crime ocorrido durante um desfile de moda. Em 1998 – após Alma de Pedra, apresentada dentro do programa da Igreja Universal -, colaborou com Yves Dumont na rural Estrela de Fogo. No ano seguinte, assinou sua primeira novela, em parceria com Luís Carlos Fusco; Tiro e Queda também flertava com o policial, abordando uma série de crimes cometidos contra a família Amarante. Em 2000, a chance de brilhar sozinha.

A Record havia acabado de estabelecer um núcleo de produção na Bahia, em razão das gravações de Marcas da Paixão, de Solange Castro Neves. A cada quinze dias, equipe técnica e atores – Carla Regina, Jussara Freire, Tânia Alves, Renato Borghi, Antônio Petrin, Lady Francisco e Leila Lopes – rodavam cenas da trama na região de Juazeiro (a 500 km da capital, Salvador). Cogitou-se então a possibilidade de manter os trabalhos por lá, contando com incentivos fiscais do Estado. Bobagem. Na Folha de São Paulo de 17 de julho de 2000, texto do jornalista Daniel Castro, um executivo do canal (não identificado) admite que tudo não passou de “lance de marketing”.

A emissora mirava mesmo num polo de produção em São Paulo – uma espécie de Projac (Estúdios Globo), a casa da teledramaturgia da emissora-líder. Para inaugurar o local, o texto escolhido foi Cafezais, desenvolvido por Vivian. A sinopse, como o título sugere, retratava o ciclo do café em São Paulo, no início do século XX. A pretensão, claro, era construir uma cidade cenográfica, elemento necessário em praticamente toda novela de época. O projeto previa ainda a manutenção – a partir de abril de 2001 – de dois horários: às 20h, contra o ‘JN’, e 21h, enfrentando o cartaz global da vez.

Cafezais, contudo, não foi adiante. Após Marcas da Paixão, a Record exibiu Vidas Cruzadas (2000), de Ecila Pedroso e Marcos Lazarini. Na sequência, Roda da Vida, outro enredo de Solange Castro Neves, marcado pelo insucesso. No ar de abril a agosto de 2001, ‘Roda’ encerrou este ciclo de teledramaturgia da emissora, rico de boas histórias e modesto em termos de produção.

Vivian de Oliveira voltou à ativa em 2003, na série Turma do Gueto, estrelada por Netinho de Paula e produzida pela Casablanca – hoje responsável por Apocalipse. No ano seguinte, integrou a equipe de roteiristas da controversa Metamorphoses, também sob realizada pela produtora independente. A autora ainda colaborou em Os Mutantes – Caminhos do Coração (2008) e Promessas de Amor (2009), dois trabalhos de Tiago Santiago. Estamos no aguardo de uma novela dela que não seja bíblica… Cafezais, quem sabe.


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.