A atual produção das 11 (que a Globo teima em chamar de “supersérie”, mas não passa de uma novela como todas as anteriores) tem qualidades, como a trilha sonora selecionada a dedo e o elenco recheado de talentos. Entretanto, o roteiro é o principal defeito. Há poucos conflitos e a história não se sustenta. O único drama do enredo é o romance dos mocinhos, que movem todos os demais personagens, direta ou indiretamente. E em virtude de tamanha importância, é vital elogiar o desempenho de Renato Góes e Sophie Charlotte.

Os dois estão irretocáveis, fazendo jus ao protagonismo da história. Renato e Alice são perfis bem construídos pelas autoras Alessandra Poggi e Angela Chaves, que se preocuparam em fugir do pedantismo de muitos mocinhos, inserindo uma firmeza admirável na postura de ambos, cujas características se mostram cativantes e humanas.

Os personagens esbanjam integridade, mas não são chatos ou bonzinhos demais. Sabem se impor sempre que necessário e não abaixam a cabeça para ninguém. Posturas assim nas décadas de 70 e 80 (época de Ditadura, conservadorismo e repressão) demonstravam uma coragem bem maior do que hoje em dia.

Renato representa a classe média e Alice a elite, onde a família dele foi destruída emocionalmente pela dela. O pai da mocinha, em conluio com o noivo da mesma, obrigou a mãe de Renato a compactuar com a falsa morte do rapaz com o objetivo de separá-lo da heroína em troca da ‘proteção’ de Gustavo (Gabriel Leone), que havia sido preso pelos militares.

Arnaldo (Antônio Calloni) e Vitor (Daniel de Oliveira) conseguiram triunfar com a chantagem, fazendo Vera (Cássia Kiss) assumir a mentira, separando o par por 14 anos. Mas o reencontro aconteceu nesta semana, na última segunda-feira (19/06), após quatro passagens de tempo, três mudanças de fase e pouco mais de dois meses de novela no ar.

A cena era a mais aguardada da novela, até porque, como já mencionado, o par é o único ponto de conflito do enredo. E rendeu 30 pontos de audiência, recorde da trama (índice não obtido na faixa desde o remake de Gabriela). Pena que tenha deixado a desejar. Alice se chocou ao ver Renato vivo durante o protesto pelas Diretas Já e desmaiou, mas, logo depois que acordou, voltou a fotografar a manifestação, deixando as inúmeras dúvidas para depois. Foi um anticlímax. Entretanto, apesar disso, os atores se entregaram e o breve momento foi muito bem defendido por eles.

O casal tem química e o ótimo entrosamento pôde ser visto logo no primeiro capítulo, quando os mocinhos se conheceram e pouco tempo depois se viram perseguidos por militares durante uma confusão. Ali havia ficado claro que o par renderia, como de fato aconteceu.

Sophie Charlotte e Renato Góes têm uma linda sintonia em cena, facilitando bastante a torcida pelo casal central. Tanto que eles viraram o maior trunfo da novela, mesmo diante de tantos colegas igualmente talentosos. Claro que o fato de os dramas do enredo focarem apenas neles contribuiu, mas de nada adiantaria se o par fosse insosso e os intérpretes limitados.

Renato vem de um primoroso trabalho em Velho Chico, quando viveu Santo dos Anjos na primeira fase da trama de Benedito Ruy Barbosa. O protagonista, interpretado pelo saudoso Domingos Montagner posteriormente, foi seu grande momento na televisão. Ali, ele pôde mostrar o seu talento, chegando a outro patamar na Globo.

Antes, Renato aparecia apenas na pele de perfis secundários, quase sempre sem muita importância. Apesar disso, vale ressaltar, já conseguia expor seu bom desempenho, vide Cordel Encantado, Joia Rara e Ligações Perigosas. O ator chegou a ser escalado para A Lei do Amor, onde viveria o motoboy Gustavo, mas acabou transferido para Os Dias Eram Assim. Sorte a dele.

E Sophie Charlotte é uma das melhores atrizes de sua geração. Não por acaso se firmou na emissora, sendo frequentemente disputada pelos autores para interpretar personagens centrais. Estava afastada da televisão para cuidar do filho Otto, que teve com Daniel de Oliveira, e seu último trabalho foi na fracassada Babilônia, onde mais uma vez convenceu, apesar dos inúmeros erros do roteiro e descaracterização de sua personagem.

Seus grandes papéis foram em Sangue Bom e O Rebu, quando viveu as complexas Amora Campana e Duda, respectivamente. Agora, a atriz mais uma vez brilha, e na pele de uma mocinha destemida, cujas cenas dramáticas são uma constante. A junção desses dois talentos se mostrou muito acertada.

Os Dias Eram Assim tem como principal trunfo o casal protagonista. Renato e Alice são mocinhos que despertam torcida para um final feliz e os perfis destacam merecidamente Renato Góes e Sophie Charlotte, que esbanjam química em todas as cenas. Os dois honram a importância dos personagens, segurando bem uma história tão limitada.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor