Após o reinado dos super-heróis de carne e osso, a TV se rendeu aos bonecos de espuma, máscaras de látex e computação gráfica. Figurinhas internacionais como Alf, o Eteimoso (1986) e o Baby, da Família Dinossauros (1991), fizeram sucesso por aqui. Mas produções próprias, da mente criativa de nossos roteiristas e diretores ou adaptações de formatos estrangeiros, é que se destacaram de fato. E dão prosseguimento às comemorações do TV História na semana da criança!

Criação da italiana Maria Perego, o ratinho Topo Gigio desembarcou por aqui para, a princípio, incrementar o Mister Show (1969), atração de Agildo Ribeiro na Globo que promovia concursos com calouros mirins. Mas o sucesso foi tanto que o bichano ganhou uma atração só sua, nas tardes de sábado. Em Topo Gigio Especial (1970), o ratinho continuava interagindo com Agildo e transmitindo noções de higiene e religião. Também cantarolava cantigas como ‘Meu Limão, Meu Limoeiro’, antes de encerrar, sempre de pijama, já deitado. Topo voltou à TV brasileira em 1983, no Boa Noite, Amiguinhos, da Band – onde também ganhou um programa só dele, em 1987.

Baseado na produção norte-americana Sesame Street (1969) – em tradução literal, “Rua Sésamo” – Vila Sésamo estreou em 1972, simultaneamente, na Globo e na Cultura. A emissora paulista disponibilizou a estrutura, enquanto a carioca cedeu elenco e equipe técnica. Embora contasse no vídeo com estrelas como Aracy Balabanian e Sônia Braga, foi o oculto Laerte Morrone quem atraiu a atenção das crianças. O ator de novelas como Marron-Glacé (1979) e A Gata Comeu (1985) era o corpo e a voz de Garibaldo, uma espécie de galinha e pato, alegre e desengonçado. Com histórias curtas, de no máximo 3 minutos, o ‘Vila’ transmitia em esquetes e quadros noções do alfabeto, expressões como “sim” e “não”, de números e cores.

Outro bicho bastante curioso – misto de homem, cachorro, porco e ET – divertia a garotada que acompanhava o Balão Mágico (1983), também da Globo. Ao lado da pequena Simony – e de Mike, Tob, Jairzinho e Luciana -, Fofão, criação de Orival Pessini, encenava situações cotidianas, transmitindo noções de condutas a serem tomadas diante de adversidades do dia-a-dia. Com o término do ‘Balão’, Fofão passou por Band e Gazeta; Pessini também investiu no cinema (Fofão e a Nave Sem Rumo) e no mercado fonográfico. E num brinquedo que gerou controvérsia por conta da fama de “homicida”: uma estrutura de plástico que dava sustentação ao boneco e a semelhança das vestimentas de Fofão com as de Chucky, protagonista da franquia Brinquedo Assassino, alimentaram esta lenda urbana.

Assim como Orival Pessini, Carlos Mariano e Gisela Arantes emprestaram voz e cabeça para os peixes Glub. O Glub-Glub estreou em setembro de 1991, compondo a grade vespertina da Cultura com outras atrações icônicas, como o Rá-Tim-Bum (1990), que serviu de embrião para todos os outros programas que a emissora lançou nesta década. Entre desenhos educativos consagrados no exterior, Glub e Glub debatiam problemas corriqueiros, apresentando sempre uma solução eficaz para o assunto no final – muitas vezes, contando com a astúcia da carangueja Carol (Andréa Pozzi). Em 2006, o canal fechado TV Rá-Tim-Bum reeditou o formato.

Diferente do Glub-Glub, o X-Tudo (1992) apostava em crianças de sete a doze anos. A principal atração era o boneco X, manipulado por Fernando Gomes. A inteligente letrinha interagia com o ator Gerson de Abreu. Os diálogos eram recheados de humor – e contavam até com adjetivos politicamente incorretos, como “gordo” e “folgado”, forma como “X” se referia ao colega de cena. Além de noções de cidadania e cuidados com o meio ambiente, X-Tudo destrinchava o funcionamento de objetos comuns, peculiaridades de profissões e dicas de revistas em quadrinho e livros infantis. Também um quadro de culinária, comandado por Rafael Meira.

Em 1993, a Globo recorreu à “comunidade canina” para substituir o fenômeno Xou da Xuxa (1986) – a esta altura, já bem desgastado. TV Colosso estreou em abril daquele ano, trazendo os bastidores de uma emissora comandada por cães, cujos perfis e formatos apresentados muito se assemelhavam às atrações em exibição na Globo e nas concorrentes. A sheepdog Priscila acabou roubando a cena! No segundo ano de ‘Colosso’, uma pesquisa encomendada pelo canal confirmou que a cadelinha era a preferida de 91% dos telespectadores. Priscila, então produtora, acabou ganhando um programa para chamar de seu! O mais curioso: o perfil da sheepdog foi definido com base nas características da antiga ocupante do horário, Xuxa.

O Castelo Rá-Tim-Bum (1994) é sucesso até hoje! As aventuras do menino Nino (Cássio Scapin), de 300 anos, vivendo num castelo cheio de particularidades ao lado do tio Vitor (Sérgio Mamberti) e da tia Morgana (Rosi Campos) eram entremeadas por quadros com bonecos. Destaque para a gralha medrosa Adelaide, companheira de Morgana; a charmosa cobra Celeste, que morava numa árvore plantada no meio da sala; o Gato, que de tanto organizar os livros da biblioteca desenvolveu seu intelecto; e Mau, que, apesar do nome, sempre praticava boas ações, delatadas por seu amigo Godofredo. As figurinhas exóticas não amedrontavam Pedro (Luciano Amaral), Biba (Cinthya Rachel) e Zeca (Freddy Allan), os amigos de Nino.

Em 1995, as parceiras CNT e Gazeta trouxeram para o Brasil um formato dinamarquês, no qual o personagem Hugo era manipulado pelo público por telefone. Os participantes usavam o aparelho como um joystick de videogame: os números 3 e 6, por exemplo, levavam o personagem para a esquerda ou para a direita. As missões consistiam sempre em salvar a família do duende, aprisionadas na Caverna das Caveiras pela terrível bruxa Maldiva. Num estúdio, que remetia a uma floresta encantada, os atores Matheus Petinnati e Vanessa Vholker atendiam as ligações e davam dicas aos competidores. Em sua última temporada, em 1998, o próprio Hugo respondia por esta interação.

Antes de manipular o “X” do X-Tudo, Fernando Gomes criou o menino Júlio, protagonista do especial Banho de Aventura, veiculado no Rá-Tim-Bum. Em 1996, Júlio foi passar as férias escolares na fazenda dos avós, a Cocoricó. Nasceu da convivência do garoto com os animais do celeiro este programa, que seguia a linha educativa do Glub-Glub e do Castelo Rá-Tim-Bum. Foram oito temporadas, com quase 300 episódios. Em meio às mudanças a cada nova fase, surgiram o Cocoricó na Cidade e o TV Cocoricó, onde Júlio entrevistava celebridades.

A roteirista e diretora Mariana Caltabiano estreou na TV com Zuzubalândia (1997), programa de bonecos exibido no SBT. Em 1998, foi chamada para reforçar o Angel Mix, matinal de Angélica na Globo. Nasceu então a divertida Garrafinha, uma pré-adolescente que vivia acompanhada dos amigos Fraldo, um pinguim, e Musicão, um cachorro. Completavam o elenco o português da padaria, Seu Pois Pois, e o dono da banca de jornais, Quadrinhos. As histórias se desenrolavam nas ruas do bairro onde a garota morava e sempre traziam ensinamentos sobre alfabetização e ecologia. A personagem foi licenciada para empresas de brinquedos, alimentos e CD-ROM.


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.